jueves, 27 de febrero de 2014

NELSON DE PAULA



LAMENTO DOS PRÉ-FANTASMAS


Somos todos pré-fantasmas potenciais,

completamente mergulhados na própria condição,

a qual, se não condena,

premedita,

entregando assim a alma

ao fio de linha que vai sustentá-la

durante as toneladas de vento

dos sopros divinos e dos furacões.

Seres Cambaleantes debaixo do sol causticante.


Impressiona o poder de atribuir significado,

mesmo que quase nenhum outro tenha o dom

de decifrar,

talvez seja apenas pela obrigação de espalhar

e não catar de volta,

marcando o território.



Pegadas podem ser seguidas,

antes que a rajada atrapalhe,

o discurso é montado

para ser servido à luz das estrelas,

na roda de amigos,

que comungam do delírio
e do verbo.



CARTAS DESMARCADAS


Peço aos céus que desmarquem

as cartas do meu destino

e permitam, assim, que eu possa

construir um caminho diferente.



Acho, com toda sinceridade,

que devo acertar as minhas contas

com o carma,

mas não acredito que isso seja

uma punição

e sim missão,

prazerosa a seu modo.



Espero que as forças celestiais

entendam a minha demanda

e me proporcionem a oportunidade

de servir muito mais

e muito melhor.



Quero ter, para dividir.



Ambiciono tornar mais fácil a passagem

de muita gente,

contribuindo com todos os meus recursos.



Como fazer para receber o dom?



Ao atribuir a si próprio o encargo


,

assumo também o risco

de que tudo não passe

de empáfia.



Porém, parece que não tenho escolha.



É maior do que tudo,

está inerente ao meu modo de ser.



Rezo para que aconteça.



Posso dar –

enxergo isso no horizonte.



Prefiro começar,

sem mais nada,

do que esperar.



Nada irá me faltar.



Os pães serão multiplicadosna hora certa.




MAQUIANDO A AURA




Há dias em que não se deve sair de casa

sem maquiar a aura.



Não dá para ter um encontro com um íncubo ou súcubo

com a alma em frangalhos,

sem brilho, rota e remendada.



Então, é fundamental ajeitar as coisas,

organizando as transparências,

colocando as sutilezas nos seus devidos lugares,

e levantando o nariz como uma vela cheia de vento,

com velocidade e ambição ao olhar.



Vale a pena lembrar de cuidar do cheiro,

já que o aroma se transforma em música no éter,

ultrapassando as escalas para tocar na porta

dos anjos da guarda,

lembrando-os

que precisamos deles quase que a todo momento.



Por fim, deixe o vento ajeitar

as tiras,

fazendo com que aquilo que poderia ser amarra,

vire escada,

apontada, é claro, para o muro do vizinho.


Nelson De Paula: (Sao Paulo, Brasil, 1950). Poeta, Collagista y Fotografo. Es autor de nùmerosos libros de poesia entre los que destacan: "Ode a una mesa", "O plasma", "Vozes do aquèm", y un ensayo titulado
"A hostia de Isis e collage, Um testamento fenomenologico". En la decada de los 80 fue parte importante de las actividades del Grupo Surrealista de Sao Paulo, fundado por Sergio Lima. Hoy trabaja explorando el collage a partir de los medios digitales.









































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